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É bem normal ouvir pessoas dizendo ‘yoga não é para mim’ simplesmente por não conseguirem realizar determinadas posturas, ou até mesmo meditação.
Isso é um grande equívoco, já que ninguém nasce pronto ou não para praticar yoga perfeitamente. O resultado é uma conquista, alcançada pela repetição da prática.
Falar sobre isso nos dias atuais é chato, pois é comum ocorrer um desvio do entendimento do contexto, que se confunde com a ‘meritocracia social’ e o diálogo descamba para uma disputa ideológica. Mas dentro da TRADIÇÃO DO YOGA, não existe a possibilidade de não falarmos disso.
A cultura e da tradição Védica (de Vedas), o berço do Yoga, tem seus fundamentos alicerçados em seis princípios filosóficos, os Sad Darshanas, que são seis diferentes pontos de vista ou perspectivas da realidade e tem como propósito orientar o ser humano em seu caminho de autorrealização. Yoga é um desses seis pontos de vista, graças ao texto de Patanjali, o Yoga Sutra.
Nesse texto Patanjali é categórico, objetivo e conciso ao definir o que é Yoga, e como alcançá-lo.
No primeiro Sutra ele diz:
atha yogānuśāsanam – atha – agora;
anuśāsanam – ensinamentos;
yoga – união;
Este versículo é interpretado como: Agora, apresento os mais importantes, ou os mais elevados ensinamentos sobre Yoga
No segundo Sutra ele diz:
yogaścittavṛttinirodhaḥ – yoga – união;
citta – mente (a manifestação da consciência);
vṛtti – flutuações ou movimentos;
nirodhaḥ – recolher, trazer para dentro
Este versículo é interpretado como: Yoga é o recolhimento (para dentro) das movimentações (para fora) da consciência manifestada através da mente.
Em seguida Patanjali apresenta os cinco tipos de flutuações da mente, mas adverte no Sutra 12 e 13 do primeiro capítulo:
O recolhimento (nirodhaḥ) advém da Disciplina (Abhyasa) e do Desapego (Vairagya)
Outro texto que gosto de citar como referência em todas as aulas é a Bhagavad-gītā, um texto épico onde Krishna (representando o Eu Verdadeiro, a Centelha Divina), orienta Arjuna (representando o eu inferior, o Ego) no campo de batalha de KuruKshetra:
Cap IV, 12 e 13 – Com amplo discernimento, a mente disciplinada e desapaixonada, o aspirante, através da renúncia aos frutos da ação necessária, aproxima-se da suprema obtenção do Naish Karmya (ação necessária, executada sem apego ao resultado)
Perceba que em 2 dos mais importantes textos do Yoga, os primeiros ensinamentos se referem a Disciplina e Desapego.
Esses conceitos são fundamentais por que o Yoga não é só uma prática de posturas difíceis. Yoga é uma filosofia ‘espiritualista’, que apresenta conceitos profundos e transcendentes para ajudar o ser humano a significar a vida, como por exemplo o conceito de que a vida é uma ‘Benção Divina’. O problema é que precisamos realizar essa benção, e isso não ocorre espontaneamente. Há que se dedicar, com Disciplina e Desapego.
Existe um conceito bem mais moderno, e muito parecido que é o Princípio Antrópico, que diz que o Universo é constituído de características muito específicas e rigorosas apenas para permitir um tipo de vida muito inteligente: a vida Humana.
Imagine que existe uma programação Metafísica ( além da física) da consciência Humana. Isso é a ‘benção’. Mas, essa programação não se realiza por si só. O Humano precisa de vontade e de uma ação para que algo se realize.
Podemos dizer que simplesmente nascemos, mas para sairmos do lugar, precisamos de vontade de sair e da ação de andar. Nada vem de graça. Só a Benção da Vida.
E é por isso que o Yoga insiste na necessidade de Disciplina e Desapego. Uma passagem é narrada por mestres ao longo de séculos. Havia um mestre muito respeitado e com muitos discípulos. Alguns destes discípulos insistiam com frequência:
– Mestre, me ensine o segredo para a Iluminação.
E o mestre respondia: – Vá e medite!
Certo dia um estranho se juntou ao grupo, reconheceu o mestre e colocou-se a meditar em sua presença. Em pouco tempo o estranho alcançou a iluminação!
Os demais discípulos do mestre inconformados indagaram:
– Como pode mestre, esse estranho chegar aqui e já receber a benção da iluminação, assim tão rápido, e nós estamos aqui há tanto tempo esperando por isso.
E o mestre respondeu:
Vou contar uma história. Havia um casamento, com uma grande festa e todos os convidados bebiam muita já há algum tempo. De repente, aproximou-se um estranho, pediu uma bebida, bebeu e caiu completamente embriagado. Todos ficaram espantados até que um homem explicou: esse estranho já passou por umas 20 festas antes dessa hoje, e em todas bebeu muito.
Conclusão: a iluminação (ou os resultados de sua prática de yoga) não virão por que você pede com firmeza, mas sim por que você pratica com disciplina.
E aqui gostaria de fazer uma observação com relação ao conceito de ‘meritocracia’. O yoga estimula no homem a busca por méritos de alma, que são os valores fundamentais de cada ser humano. Pois assim, através da Disciplina e Desapego este corpo e esta mente estarão habilitados para realizar todo o verdadeiro potencial da alma que o Ser Humano É. O Yogi não espera por resultados de suas ações, ele apenas faz por que é o mais nobre e verdadeiro sentido para a vida.
Então, seguindo esse conceito, se você deseja transformar seu corpo através dos asanas, você precisa praticar Yoga, não adianta só se matricular, e fazer isso com certa disciplina. Também vai precisar de um certo grau de desapego, o que é bem difícil em nossa sociedade moderna, onde para tudo buscamos uma resposta ou um resultado imediato. Criar essa expectativa pode ser frustrante e desanimador.
E o mesmo se aplica para Meditação, prática de pranayamas, ou mantras … para tornar-se hábil, é preciso praticar muito.
Aqui vão algumas dicas importantes para permanecer na Disciplina e Desapego:
Não aceite seu pensamento de ‘não consigo’; desafie-o
Não olhe para os seus limites
Valorize muito seus potenciais
Não crie expectativas
Não se compare com outros; compare-se apenas com o você de ontem
Certifique-se de estar melhor que ontem
Não planilhe a sua vida: VIVA apenas
Coloque muita vontade na sua disciplina e ela se tornará um hábito saudável
Lembre-se: o Propósito do Yoga é ajudar todo e qualquer ser humano no seu próprio caminho de AUTORREALIZAÇÃO.
NÃO ACEITE MENOS QUE ISSO AO SE TORNAR UM PRATICANTE DE YOGA.
Como tem sido a sua prática?
Já se pegou numa auto cobrança assustadora alguma vez?
Ou já se pegou sabotando a si mesmo em sua prática?
Obrigada por ler! É uma honra ter você aqui
Jaque Borges
É bem normal ouvir pessoas dizendo ‘yoga não é para mim’ simplesmente por não conseguirem realizar determinadas posturas, ou até mesmo meditação. Isso é um grande equívoco, já que ninguém nasce pronto ou não para praticar yoga perfeitamente. O resultado é uma conquista, alcançada pela repetição da prática.
No coração das tradições filosóficas e religiosas indianas, dois conceitos profundos e interligados se destacam: Dharma e Karma. Embora muitas vezes mencionados juntos, eles têm significados distintos que moldam a maneira como percebemos a vida, nossas escolhas e as consequências de nossas ações.
O yoga, uma prática milenar originada na Índia, tem ganhado popularidade global devido aos seus inúmeros benefícios para a mente, o corpo e o espírito.